quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pensar Sobre O Trabalho Dá Trabalho


Uma das mais recentes campanhas de foto que está se espalhando no facebook é sobre a greve dos bancários. A foto em questão, mostra um bilhete, abaixo do cartaz dos grevistas, com um recado de um cidadão indignado. A mensagem é a seguinte: "Greve de quê? Ganha mais que eu, trabalha das 9 as 16, não trabalha nem sábado nem domingo, não se suja, não sua, não cansa, só anda arrumado(a). Qual é?"

Em pouco tempo, várias pessoas, num arroubo de rebeldia e indignação saíram do seu comodismo e diretamente do conforto da sua cadeira em frente ao computador, compartilharam a tal imagem, demonstrando sua insatisfação com os grevistas. Tudo isso, embasados na elaborada argumentação do bilhete.

Nessa situação, se vê não só a superficialidade e o vazio que dominam os "protestos" das redes sociais, mas também a desinformação e a desunião do povo, da massa, dos trabalhadores em geral. É o caso do que chamo a dualidade do cachorro na coleira e do cachorro solto.

Sempre que um cachorro passa na rua, feliz e gozando de liberdade, logo um cachorro que está preso, atrás de um portão, late como um louco para o outro. Nada mais do que a expressão de descontentamento de não poder estar lá fora também, de não poder sequer cheirar a bunda do outro que passeia tranquilo por onde quer.

A mesma coisa acontece nessa situação de greve. De um lado um trabalhador que provavelmente executa alguma atividade manual, que exige esforço físico, degrada o corpo e a mente, e no final paga mal. De outro, trabalhadores que exercem um trabalho intelectual, no qual o esforço não fica explicíto, pois é uma atividade de caráter introspectivo e que, por motivos históricos, tem um retorno financeiro maior.

Aquele que se suja, sua e ganha mal fica indignado, com razão, mas contra o alvo errado. O direito de greve é de todos os trabalhadores e é instrumento importantíssimo quando as negociações com os patrões falham. Um trabalhador, ou uma classe, que se opõe ou diminui a greve de outros, nada mais faz do que enfraquecer sua própria defesa, seu próprio direito de também fazer valer sua voz contra aqueles que exploram.

Voltando ao caso dos cachorros, é o cachorro, que trancado, fica fulo da vida com aquele que está solto na rua, ao invés de direcionar sua raiva contra aquele que o prende, o verdadeiro responsável por sua situação, o dono da coleira. Sejam bancários, professores, ou qualquer outra classe cujo trabalho é intelectual, não são eles os responsáveis pelas condições desumanas que possam existir, de maneira mais grave, nos trabalhos manuais. Não é contra outro trabalhador que se deve dirigir a insatisfação com as condições de trabalho, pois não são eles quem ditam essas condições.

Respeitemos então o direito de greve, independentemente de qual classe trabalhadora, e aprendamos a pensar nas verdadeiras causas, nos verdadeiros culpados. Busquemos a clareza para enxergar quem está do nosso lado, no mesmo barco, e quem está de lá, aproveitando-se das riquezas e méritos do nosso trabalho.



"Tem gente que passa a vida inteira
travando a inútil luta com os galhos
Sem saber que é lá no tronco
Que tá o coringa do baralho" As Aventuras De Raul Seixas Na Cidade De Thor

sexta-feira, 24 de junho de 2011

trecho de carta a mim mesmo de 24 de Junho de 2009

[...]da vida humana. Tão diversa e abundante, mas enigmática e perigosa. Se me olho no espelho pergunto, eu sou você ou você sou eu? O quanto eu sou como outro e o quanto sou como eu mesmo? E assim tais perguntas se sucedem nesta busca infindável. A mudança é inevitável, o devir é constante. Nesta teia de paradoxos e incertezas, é estranho e maravilhoso acompanhar a procura por uma definição estável e uma identidade precisa, especial, única. Ao contemplar os abismos, muitos são tentados à pular, somos todos, não? Ninguém pede por uma aventura, com percalços tantos, pedras assombrosas e destino incerto no final, mas sempre se reclama da tediosidade da vida contada, precisa, previsível e decepcionante, normal. Digo então, trilhe caminho, olhos em direção, equilíbrio, sem sim nem não.

sábado, 23 de abril de 2011

Barfly - um filme escrito por Charles Bukowski


Algum tempo atrás, numa avaliação do nível de inglês dos funcionários do lugar onde trabalho, escrevi um texto sobre o filme que tinha visto, Barfly, escrito por um dos caras que mais admiro na literatura, Charles Bukowski. No final procurei fazer uma alusão a um verso de um poema dele, "Dinosauria, we", que também é o título de um documentário sobre ele, "Born into this". Saca só:

Some days ago i watched the movie "Barfly". The movie was written by american writter Charles Bukowski and as the novels he wrote, it shows a drunk and his daily activities. Using the ones who are generally excluded and falsely criticized in our society; drunks, whores, gamblers and others, Bukowski shows his vision of life and this world, especially about U.S.A.
People get too much illusion from government, TV and mainstream media. They live their american dream, walking blindly and wasting their lives, letting others dictate how it should be lived. He, as depicted by himself in his autobiographic character, Henry Chinaski, does not give a damn about this illusion and all he wants is to feel alive, to do something while he lives through this, and dies because of this, with no other option, since we are born into this.


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Alguns dias atrás eu assisti o filme "Barfly". O filme foi escrito pelo escritor estadunidense Charles Bukowski e assim como os romances que ele escreveu, mostra um bebâdo e suas atividades diárias. Usando os que são geralmente excluídos e falsamente criticados em nossa sociedade; bebâdos, putas, apostadores e outros, Bukowski mostra a sua visão da vida e deste mundo, especialmente sobre os E.U.A.
As pessoas recebem muitas ilusões do governo, TV e a mídia principal/oficial. Elas vivem seu sonho americano, caminhando cegamente e desperdiçando suas vidas, deixando que outros ditem como se deve viver. Ele, como descrito por si mesmo em seu personagem autobiográfico, Henri Chinaski, não dá a mínima pra essa ilusão e tudo o que ele quer é se sentir vivo, fazer alguma coisa enquanto ele vive através disso, e morre por causa disso, sem nenhuma outra opção, já que nascemos nisso.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

É, sim, têm resposta pra tudo. Olhe quantos livros, quantos "best-sellers", guias que já ajudaram milhões. E há tantos exemplos a seguir, carreiras pra sonhar, muitos homens em quem se espelhar.
Por mais que digam e afirmem, que creiam e professem, nada nem ninguém, nunca em momento algum, responderá à
"Quem sou eu?"
E mesmo que
[ Por uma singularidade ]

Assim o faça
Nem por um instante
Tal verdade pode perdurar

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Luta diária, resistência cotidiana

Todo dia é dia de mudança. A cada amanhacer temos, mais uma vez, a oportunidade de transformar nosso mundo, influenciar as pessoas que nos cercam, sermos a mudança que desejamos ver no mundo1. Quando se fala em mudar o mundo, em revolução, geralmente somos levados a pensar em grandes mudanças estruturais, em socialismo, capitalismo e anarquismo. Aqueles que já estão derrotados, pois já desistiram antes da luta começar, exigem de nós soluções completas e comprovadas para todos os grandes problemas que a humanidade causa a si mesma. E através desses mecanismos, tentam matar em nós a esperança de evolução, aniquilam a vontade para mudar, com argumentos de conformismo e impotência. Não raro, ridicularizam quem fala em revolução, quem deseja e acredita que é possível se fazer um mundo melhor, mais solidário e mais inteligente. Apesar de estarmos todos no mesmo barco, infelizmente há aqueles que por medo e insegurança se convenceram do naufrágio e nada fazem para tirar a água que pode nos levar para o fundo. Em alguns casos, até mesmo ajudam o naufrágio, fazem furos na embarcação, jogam água dentro, pois estão dominados pelo sentimento da tragédia, do fim, da falta de poder.
Nessas horas é preciso ter espírito guerreiro para resistir e não se contaminar com o fracasso pregado pelos que já estão derrotados. Por mais que estejamos todos encarceirados na mesma prisão, há sempre aqueles que não se entregam e mantém o sonho de liberdade. Não existe fuga individual desta prisão, até porque nada existe fora dela. Nós fizemos do nosso mundo, da nossa realidade as grades e barras, cercas e muros que nos prendem. E para derrubá-los, é preciso que todos os prisioneiros se deêm conta de que a chave para abrir os portões está na própria mente de cada um. Assim cada prisioneiro que encontra esta chave, que encontra consigo mesmo e descobre o poder que existe em si, dá seu passo em direção ao fim do temor, da alienação, da subserviência e exploração. E pedra por pedra, a muralha começa a baixar. Como já disse, existem aqueles que não querem ver os muros caídos, que se derrubamos uma pedra aqui, colocam outra mais ali. São estes os carcereiros, os guardas que por estarem no topo dos muros se veêm como livres, ou pelo menos superiores, mas fecham os olhos para o fato de que continuam na prisão, pois nada há fora dela. E muitos, na esperança de um dia serem também os iludidos vigias nas casamatas, ajudam na fiscalização e denunciam os companheiros detentos, afoitos para receberem os prêmios dos detentores, para serem eles também vigias nos muros.
Por isso é que todo dia há de se fazer mudança, no gesto mais simples, na palavra mais comum. Do bom dia que se dá, sincero e verdadeiro, revelando a energia e a esperança de um novo levantar, até a recusa frente às pressões de consumo supérfluo, de mercadorias e opiniões, demonstrado independência frente à lobotomia publicitária. A verdadeira revolução se faz no próprio ser, na formação de valores próprios, de opiniões que vem da reflexão interna, no cultivo da tolerância e solidariedade. A resistência é cotidiana e está nos comportamentos mais básicos, na transmissão de influências positivas à todos que estão à nossa volta e no fortalecimento, a medida em que há o retorno, dessa energia do bem. Lute sem medo e com segurança, pois se existe a hora da queda, também existe a hora da ascensão2.

1: Mahatma Gandhi
2: Hora da Ascensão por Mato Seco

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

poema 28 12

Olhei dentro do poço
Foi triste e abatedor
O que vi
?
Pensei no que poderia ser
Uma porta para o Nada
Um passo final ao
Abismo

Não!
é Negação
Sim!
é uma Afirmação
E talvez
somos Nós

Pensei no que poderia ser
Afinal, Tudo
um caminho novo
Começo
O que vi
?
Consumação e Esperança
Olhando me do topo